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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

eu leio, tu lês, ele lê, nós lemos

Lucirlei C. de Lima, 4o ano, E.M. Antonio Coutinho de Azevedo, lendo em voz alta para seus alunos; crianças em leitura individual e coletiva.


“Gostaria de registrar a delícia mágica que faz parte do momento em que as crianças retiram os plásticos de seus livros e os folheiam inicialmente. Mas não há fotos ou palavras que consigam ser fieis às impressas em minha memória de professora. Não correrei o risco de empalidecer este momento com palavras bonitas. É fato. É mágico. É um grande prazer participar destes momentos!” [Professora Fernanda Cristina D. Di Motta, 3o ano, E.M. Professor Paulo de Almeida Campos] 

Há momentos em que a leitura é tão singular que se torna quase incomunicável, como tão bem descreve a professora Fernanda com palavras que iluminam um desses momentos mágicos, ao invés de empalidecê-lo. Em algumas situações, somos meros observadores da experiência leitora vivida pelos outros, por mais próximos que sejam de nós. São ocasiões em que só há espaço para dois: o leitor e o livro que tem em mãos. O que dali se abre e se transforma, em diálogo singular, não se pode invadir ou mensurar. Como afirma Daniel Pennac, referindo-se aos pequenos leitores em contato com o maravilhoso dos contos de fadas, “suas relações particulares com Branca de Neve ou com qualquer um dos sete anões eram da ordem da intimidade, que exige segredo: grande fruição do leitor!” 

Assim como há leituras que exigem segredo, há as que querem se mostrar. Como uma roupa nova louca para desfilar, uma receita que precisa do paladar alheio para ser aprovada, ou ainda uma canção recém criada que só ganhará vida quando cantarolada por uma outra voz. Certas leituras são alçadas a uma condição especial quando compartilhadas. Não só porque se ampliam quando se mostram, mas principalmente porque seus leitores beneficiam-se da cumplicidade. A angústia de um final repentino num conto, a surpresa de um jogo sonoro que esconde e revela sentidos num poema ou a leveza de uma crônica pincelando cores no cotidiano cinzento, adquirem novas dimensões quando divididas com o outro. Porque ele, o outro, pode sentir a mesma angústia com o final repentino do conto, mas também pode sentir um imenso alívio, expandindo, assim, o que parecia estático na leitura solitária. É por meio da linguagem que a linguagem literária ganha novos e mais ricos sentidos. A palavra é sua matéria-prima. Se bruta, conserva a grandiosidade da origem; se lapidada, expressa o valor do esforço; se presenteada, eterniza-se no instante da intenção.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

olho olha, fita, nota, examina, admira, lê

Sempre que alguém fala em “ler imagens” um outro logo pensa em leitura de coisas impressas num suporte fixo: desenhos, pinturas, ilustrações, fotografias, gráficos etc. Nosso olho lê, sim, todas essas imagens massivamente publicadas. Lê e ignora, lê e pensa, lê e ri, chora, devora. Um jeito de se apropriar quase antropofagicamente do que nos cerca, como sugeriram os poetas revolucionários da Semana de Arte Moderna de 1922. De lá pra cá, a quantidade e o formato das imagens à nossa disposição mudou consideravelmente. Na velocidade peculiar à história de cada um, em contextos sociais dos mais variados, nossos olhos correm vertiginosamente à procura de sentido.

O que a leitura de imagens pode nos oferecer, afinal?

É possível extrair maior significado enxergando para além da materialidade fixa: o que há de vivo no que vemos? Qual intencionalidade podemos perceber no olho de quem registrou determinada imagem? E nas imagens que nos sugerem os poetas, então? Como ampliar a visão para, de fato, vê-las no poema? Cecília Meireles aponta-nos um possível caminho, dentre tantos:

“(…) Multiplica os teus olhos, para verem mais.

Destrói os olhos que tiverem visto.

Cria outros, para as visões novas.

(…) Sê sempre o mesmo.

Sempre outro.
Mas sempre alto.

Sempre longe.

E dentro de tudo.”
[Cântico XVIII, Cecília Meireles]

Multiplicidade é, também, uma propriedade dos textos literários apontada pelo escritor italiano Ítalo Calvino em seu livro Seis propostas para o próximo milênio. Referindo-se especificamente à multiplicidade presente na literatura produzida em nosso atual milênio, o autor constrói um conceito de multiplicidade, tanto no caso das imagens visuais quanto verbais, que não se restringe à ideia de “procriação”, mas se expande na concepção de “muitos em um só”. Eis aí uma possível chave para ampliar o que entendemos por “leitura de imagens”: procurar o que há de vário no aparentemente único.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

abre-te cérebro!

“Anne-Marie fez-me sentar à sua frente, em minha cadeirinha; inclinou-se, baixou as pálpebras e adormeceu. Daquele rosto de estátua saiu uma voz de gesso. Perdi a cabeça: quem estava contando? O quê? E a quem? Minha mãe ausentara-se: nenhum sorriso, nenhum sinal de conivência, eu estava no exílio. Além disso, eu não reconhecia a sua linguagem. Onde é que arranjava aquela segurança? Ao cabo de um instante, compreendi: era o livro que falava. Dele saíam frases que me causavam medo: eram verdadeiras centopéias, formigavam de sílabas, letras, estiravam seus ditongos, faziam vibrar as consoantes duplas: cantantes, nasais, entrecortadas de pausas e suspiros, ricas em palavras desconhecidas, encantavam-se por si próprias (...) As palavras largavam a sua cor sobre as coisas, transformando as ações em ritos e os acontecimentos em cerimônias.” [As palavras, Jean-Paul Sartre]

Você já pensou que quando abrimos um livro e lemos algo em voz alta para alguém um universo inteiro se abre diante de seus sentidos? É como se disséssemos, tal qual o verso do poeta Arnaldo Antunes: “Abre-te cérebro!” E, então, ouvidos e mente se descortinam para a experiência da leitura a partir do outro – aquele que se dá a nós por sua voz. Pode acontecer a qualquer hora e em qualquer lugar, basta que haja entre os interlocutores um bom livro. Um livro que fale, como no relato citado acima, em que o filósofo Sartre descreve poeticamente um instante privilegiado de sua infância, ao ser presenteado com a leitura em voz alta de sua mãe.

Bons livros falam por si, mas falam mais ainda se suas palavras ecoam com volume e intensidade intencionalmente pronunciadas. Quando isso acontece, ritualiza-se a experiência da leitura e certamente mais coisas se abrem aos ouvidos e mentes já despertos pela palavra. É algo dessa natureza o que nos contam os relatos de algumas professoras que participam do Projeto Magia de Ler:

“É neste momento que procuro despertar nos meus alunos o gosto e o prazer de ler e desenvolver uma competência leitora. Ao ouvir, os alunos aprendem, percebem as informações que estão sendo lidas, além de poderem compartilhar o momento da leitura com o grupo (...) Vale ressaltar que é necessário fazer uma leitura prévia do texto a ser lido, observar a qualidade e o assunto da história, assim como as ilustrações. O comportamento dos alunos como ouvintes faz parte de um processo de construção. Requer tempo.”  [Luciane Ribeiro Andrade, professora do 2o ano da E. M. Noronha Santos]

“Todos os artifícios a contribuir na aprendizagem são sempre válidos... Um deles, de muita importância, é a leitura em voz alta. Isso porque, tudo o que sugere uma outra ideia promove incremento do conhecimento. Por isso, a leitura interpretativa, elevando a entonação, ajuda na construção de múltiplas visões acerca do assunto.” [Luciana Antonia F. Marinho, professora do 4o ano da E. M. Nossa Senhora da Penha]

“Sabemos da importância da leitura em voz alta com a devida entonação, realizada pelo professor. Traduz uma prática que vai influenciar, motivar, incentivar, envolvendo os alunos no mundo imaginário, favorecendo a apreciação de textos literários, contribuindo assim com a formação de novos leitores literários.” [Sebastiana Almeida Moreira, professora do 2o ano da E.M. Júlia Cortines]

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

lançar mundos no mundo

O que a leitura significa para você? 
Para a maioria dos brasileiros que participou da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” (Instituto Pró-Livro, 2007), ela é fonte de conhecimento para a vida. Já para a maioria das crianças entrevistadas, a leitura é, principalmente, uma atividade prazerosa. Se unirmos livremente as respostas, a leitura torna-se sinônimo de um prazeroso meio de obter conhecimento. Sabemos que a leitura pode ser associada à inúmeros valores, além de conhecimento e prazer. Sua natureza a coloca justamente no lugar da variedade, da diversidade, da multiplicidade, da amplidão. Como já disse Caetano Veloso na canção “Livros” (http://www.youtube.com/watch?v=7vV22LRNrpk), ela tem o poder de “lançar mundos no mundo”. Lançando-se à leitura, escritores e pensadores nos deixam legados humanos insubstituíveis. Veja o que eles dizem sobre sua experiência com a leitura e deixe, você também, seu comentário: o que a leitura significa para você? (ou responda nossa enquete à esquerda)

"Para mim é difícil falar simplesmente de gosto pelos livros, porque em matéria de livros meu caso é muito grave: é um amor que vem desde a infância, que me tem acompanhado a vida inteira, e ainda acima disto, é incurável... [José Mindlin, bibliófilo]

"Escondidas no silêncio da biblioteca, mascaradas pela escura monotonia das capas, todas as palavras estavam lá, esperando que eu as decifrasse. Eu sonhava em me enfurnar naqueles corredores poeirentos, e nunca mais voltar." [Simone de Beauvoir, pensadora e escritora]

"Ler, eu acredito, é uma das experiências mais radiosas de nossa vida, pois, como leitores, descobrimos nosso próprio pensamento e nossa própria fala graças ao pensamento e à fala de um outro." [Marilena Chauí, filósofa]

"A vida está pulsando ali. O livro faz parte da casa, da comida, da experiência, da maternidade, do cotidiano." [Adélia Prado, escritora]

"De 1941 a 1944, quando me casei pela primeira vez, vivi um tempo intensamente dedicado a leituras tão críticas quanto me era possível fazer. Parte do que eu ganhava dedicava à compra de livros e de velhas revistas especializadas. As revistas e os livros punham sempre entre parênteses a aquisição de roupas e, somente quando não era possível deixar para um depois instante, comprava algo ordinário." [Paulo Freire, educador]

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

um autor, muitos leitores

No dia 18 de agosto, alunos e professores participaram de uma “conversa eletrônica” com o autor Tiago de Melo Andrade. A proposta faz parte das ações formativas do programa Magia de Ler em desenvolvimento na rede.
Mediada pela coordenadora Karina Rizek, a conversa foi descontraída e repleta de conteúdos interessantes: os alunos prepararam diversas perguntas, que iam desde curiosidades sobre a vida do autor e sobre o seu fazer de escritor até questões sobre a obra que haviam lido - “Gabi e o Tesouro do Oriente”. Os alunos queriam saber, por exemplo, se Tiago morava mesmo em uma casa azul e se conhecia todos os lugares pelos quais a personagem Gabi passava em sua aventura – resposta que Tiago tinha pronta: a literatura pode ser um caminho para conhecer mundos reais, possíveis e imaginários. Na seqüência, os professores também puderam fazer suas perguntas para o autor e para a Maria Esther Soub, capacitadora do Magia de Ler, que respondeu questões relacionadas ao desenvolvimento dos projetos didáticos propostos pelo programa.

"Tenho trinta anos. Moro em Uberaba, Minas Gerais, numa casa azul, com meus pais, minha irmã, duas gatas, um cachorro, cinco saracuras, uma onça escondida no quintal e o fantasma do meu tataravô. Aos 5 anos de idade, tentei fugir com o circo, mas a polícia impediu, felizmente. Aos 10, enquanto estava rezando, quebrei o braço esquerdo. Aos 19, já com pernas muito compridas, salvei um homem que caiu na enxurrada. Aos 22, publiquei meu primeiro livro... Estudei história por um tempo, mas acabei me formando em direito. Escrevo livros infantis e juvenis desde 2001, quando recebi o Prêmio Jabuti na categoria Autor Revelação. Durante estes anos, publiquei vários livros e tive a felicidade de conhecer ótimas pessoas engajadas na formação de um país leitor. Foi muito bom entrar para essa turma que, teimosamente, não desiste das letras e acredita num futuro de muitas histórias para o nosso Brasil. O que eu gosto mesmo é de contar uma boa história, de preferência engraçada, para trazer a leveza do riso para essa vida pesada de manchetes tristes. O bom humor é fundamental para superar as dificuldades ou mesmo para conviver com elas."

domingo, 3 de outubro de 2010

conhecendo o blog

A criação deste espaço visa a construção de mais um canal de comunicação dentro do programa MAGIA DE LER para divulgação de idéias, experiências, reflexões e, principalmente, troca entre todos aqueles envolvidos e implicados com a educação de nossas crianças. É aqui que professores, capacitadores, coordenadores, diretores, equipe técnica e, inclusive as crianças, têm a oportunidade de se encontrarem e exporem suas idéias e opiniões.

Para promover essa comunicação, é fundamental que todos os envolvidos no programa participem, acessando a página regularmente e contribuindo com comentários!

Você vai encontrar, neste blog, muitas "postagens". Cada postagem é um texto, que apresenta um conteúdo diferente relacionado ao programa (a reflexão de um professor, uma notícia, uma foto legendada, um depoimento, um texto interessante etc.). No canto esquerdo da página você vai encontrar, abaixo do texto que descreve o programa, um "índice", organizado por data. Através deste índice você tem acesso a todo o conteúdo do blog, organizado por data. Vá clicando nos diferentes tópicos para ter acesso aos textos. Para cada um deles, você poderá adicionar um comentário. 

Se você, além dos comentários, quiser sugerir o texto para uma postagem, escreva um email para projetomagiadeler@gmail.com . Teremos grande prazer em receber sua contribuição!


Contamos com vocês e aguardamos ansiosos o envio de comentários e postagens!