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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

histórias de amor aos livros


O vídeo indicado no link acima, “A menina que odiava os livros”, é uma animação canadense baseada na obra com mesmo título, de Manjusha Pawagi, publicado pela Ed. Melhoramentos. Se você começou a ler este post antes de assistir ao vídeo ou ler o livro, não pretendemos estragar a surpresa contando-lhe o final... A dica é que o título engana o leitor e o que se vê, na verdade, é uma história de amor aos livros. Um amor daqueles difíceis de conquistar. Do tipo que insiste em dizer não, louco para dizer sim e cuja negação só faz do encontro algo mais intenso ainda. A literatura está cheia de histórias de amor aos livros – reais e fictícias. Clarice Lispector nos presenteia com uma delas no conto A felicidade Clandestina ao narrar o maravilhoso encontro entre uma menina e seu objeto de desejo: o livro Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. “Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante”, é a frase escolhida pela autora para descrever o momento da posse do livro e finalizar o conto. Melhor do que falar sobre estas declarações de amor aos livros, é dar voz aos apaixonados e escutar, com ouvidos e coração bem abertos, suas histórias pessoais, tão universais...

“Lembro de uma coleção de contos de fadas de capa dura e uma ilustração mágica na capa, daquelas que o desenho muda de acordo com a posição que você olha. A capa era preta e a lombada vermelha, além da ilustração mutante. Era uma coleção com mais de 10 livros com certeza, porque eu adorava ler a coleção propriamente, não só a história: lia o primeiro, depois o segundo, depois o terceiro... Achava minha coleção chique e importante pelo tratamento dado ao portador, além de devorá-los todos várias vezes... Minha leitura era feita na mesa da cozinha na companhia de minha mãe enquanto ela cozinhava. Tínhamos 2 coleções de livro vendidas na porta: a luxuosa de contos de fadas e uma outra em que havia texturas diferentes coladas a cada página e cheirinho, se raspássemos algumas colagens da ilustração. O interessante é que a coleção de contos de fadas era minha preferida, mesmo com o texto longo com poucas ilustrações, que poderia intimidar a criança que eu era diante dos gracejos oferecidos pela outra, cujo texto de pequenas frases sobre animais poderia parecer mais atraente. Mas não, nem me envolvia muito com aqueles livros mais de brincadeira do que livros mesmo. Sou leitora voraz até hoje e por toda a minha vida. Descobri a leitura por meu gosto pessoal em ler. Mas os livros sempre me foram rodeados de afeto e atenção. Ler para mim sempre foi envolto em um ato de carinho: ao lado do cheiro da comida de minha amorosa mãe; na aventura da descoberta do conhecimento compartilhada nas escadas do sebo Sr. Brandão, na adolescência. Isso é o que mais busco preservar na minha partilha da leitura com meus alunos e com minhas professoras pela vida de educadora afora: as histórias das histórias.”
Ana Claudia Rocha, educadora há 25 anos, leitora há 40.

“Quando eu tinha uns seis anos de idade, chegou o grande dia para mim: papai esvaziou um cantinho de uma de suas estantes e permitiu que eu transferisse meus livros para lá. Para ser mais preciso, ele me deu uns trinta centímetros, mais ou menos a quarta parte da prateleira mais baixa. Abracei meus livros, que até então viviam deitados sobre o tapete, ao lado da minha cama, os carreguei até a estante de papai e os arrumei em pé, as costas voltadas para o mundo exterior, e a frente, para a parede. Aquele foi um ritual de iniciação, o verdadeiro rito de passagem para a idade adulta: o indivíduo cujos livros ficam de pé já é um homem, não mais uma criança. Agora eu era como meu pai. Meus livros estavam de pé.”
Amós Oz, escritor israelense, em seu livro autobiográfico De amor e trevas, Companhia das Letras, 2005.

“Existe um certo tipo de criança que acorda de um livro como de um sono profundo, nadando através de camadas de consciência em direção a uma realidade que parece menos real do que o estado de sonho que ficou para trás. Eu fui esse tipo de criança. Depois, na adolescência, influenciada por Hardy, não conseguia me apaixonar por um garoto sem classificá-lo como Damon ou Clym. Mais tarde ainda, dormia com meu marido numa cama cheia de livros, esperando que a chegada de nosso primeiro filho se parecesse com a cena de nascimento de Kitty em Ana Karenina. (…) Ao longo desses anos, meu filho nasceu, minha filha aprendeu a ler, meu marido e eu completamos quarenta anos, minha mãe fez oitenta e meu pai noventa anos. Nossos livros, entretanto – mesmo aqueles publicados muito antes de termos nascido – permaneceram sem idade. Eles registraram a passagem do tempo real, e porque nos lembravam de todas as ocasiões em que tinham sido lidos e relidos, também refletiram a passagem das décadas precedentes. Os livros escreveram a história da nossa vida e, à medida que se acumularam nas estantes (e no parapeito das janelas, e debaixo do sofá, e em cima da geladeira), tornaram-se capítulos dela. Como poderia ser diferente?”
Anne Fadiman, jornalista e escritora americana, em Ex-Libris – Confissões de uma leitora comum, Jorge Zahar Editora, 2002.

iluminar de imenso







A Mostra de Trabalhos do Programa Magia de Ler em Niterói reuniu cerca de 400 pessoas no Centro Cultural Abrigo de Bondes, no dia 19 de novembro de 2010. O evento, organizado pela Fundação Municipal de Educação do Município de Niterói e pela Secretaria Municipal de Educação, em parceria com a Editora Melhoramentos, contou com a presença de toda a comunidade escolar - pais, alunos, professores, coordenadores e diretores compartilharam experiências leitoras significativas vividas em sala de aula. Além de importantes autoridades prestigiando o evento, como a Sra. Secretária de Educação Profª. Maria Inês A. Oliveira, o Sr. Claudio Mendonça, Presidente da Fundação Municipal de Educação e o Sr. Paulo Favero, representante da Editora Melhoramentos, os participantes tiveram a alegria de contar com a presença do escritor e ilustrador Maurício de Sousa, criador da Turma da Mônica.
O clima de festa conviveu com o espírito crítico, reflexivo e principalmente cooperativo que norteou a troca de experiências leitoras realizadas nas 42 escolas da rede que aderiram ao Programa Magia de Ler. Banners organizados por cada escola destacavam momentos desse percurso, ricamente ilustrados com fotos das crianças e dos professores lendo e conversando sobre as leituras em sala de aula. Diálogos gerando novos diálogos e multiplicando vozes.
A poesia inerente a todo processo educativo cujas bases estão assentadas sobretudo nas relações humanas, com seus valores intrínsecos e suas manifestações artísticas singulares, emergiu de maneira especial nessa etapa final do Programa Magia de Ler em Niterói. As professoras Maria de Fátima Azevedo, Cleusa Lanes e Fernanda de Araújo Frambach traduziram suas experiências didáticas na escrita de poemas que expressam com simplicidade e verdade as descobertas proporcionadas pela leitura (veja os textos abaixo).
O melhor de tudo é que o diálogo literário não se encerra com o evento de finalização do Programa neste ano. Para 2011, está prevista a continuidade do Programa Magia de Ler em Niterói, com ampliação para turmas de Grupo 5, na Educação Infantil e dos 1os anos do Ensino Fundamental. Portanto, outras tardes de mostras de trabalhos como essa virão… Novas manhãs continuarão soprando bons ventos e abrindo portas para outras tantas leituras. Ou, plageando as preciosíssimas palavras do poeta Giuseppe Ungaretti: “iluminarão de imenso” as salas de aula com seus leitores.
 
MAGIA DE LER

A leitura é importante
Isso devemos saber
É por isso que na escola
Surgiu a magia de ler

Os livros são atraentes
Com temas interessantes
Não esqueçam estudantes
A leitura é importante

Para ser um bom leitor
Deve haver dedicação
Os livros são os parceiros
De uma boa educação

A magia do projeto
É formar grandes leitores
Conhecendo grandes obras
E também os seus autores

(Professora Maria de Fátima Azevedo, E.M. Vila Costa Monteiro)

***

Ler... Que Magia!

Malas mágicas recebemos
Para curiosos revirar
Tantas histórias e fantasias
Começamos a nos espalhar

Fomos dar uma espiadinha
Como estava a “Festa no Céu”
A tartaruga, sem asas na festinha,
De lá caiu e quase foi pro beleléu.

“Por que a lua muda de forma?”
Todos nós queríamos saber
Indagamos, pesquisamos, ilustramos
Quanta coisa nova à aprender!

Que viagem nos proporcionou
“Gabi” nos lugares que conquistou.
Piratas, desertos, beduínos
Tesouros,  tapete voador. Gente!
Até encantador de serpente!

Lendo “Gabi e o tesouro do Oriente”
Questionamos por que damos
a tantas coisas valor
Pois o maior bem que há na vida
Somos nós mesmos, ligados pelo amor

Conhecendo a história:
“A Fantasia do Urubu Beleza”
Ficamos pensando, intrigados:
- Será que os animais
Terão que preservar a natureza?

Mala Mágica envolvente
Lendo, quanto podemos aprender
As professoras passam seus saberes,
Para a criançada desenvolver

Ler é muito divertido
Ao livro, como resistir?
Leio. Leia! Leiamos todos!
Vamos todos evoluir.

(Professora Cleusa Lanes, E.M. Professor André Trouche)

***

Lendo poemas e imagens.
Vendo rimas, ouvindo sons.
Lendo sozinho ou junto.
Ouvindo autores.
Reconhecendo escritores.

Conhecendo o mundo.
Brincando com as palavras.
Declamando com emoção.
Lendo e ouvindo almas.
Presenteando um coração.

(Professora Fernanda de Araújo Frambach, E.M. Professora Lúcia Maria Silveira Rocha)

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

conversas literárias

Para além da referência irônica ao uso de textos sem sentido no processo de alfabetização, a tirinha da Mafalda nos aponta o constante esforço que as crianças costumam fazer para encontrar significado em suas aprendizagens e espaço para compartilhá-las com outras pessoas.

Sabemos que a interação é um ingrediente privilegiado na construção de saberes: falando e ouvindo o outro, elaboramos e reelaboramos conhecimentos. Para que essa troca de fato nos alimente, é preciso que o recheio da conversa seja substancial e saboroso. As conversas literárias, que surgem da literatura de qualidade, podem possibilitar uma degustação muito prazerosa!

Em agosto de 2010, os professores da rede municipal de Niterói realizaram uma conversa apreciativa com seus alunos a partir da leitura do conto “Sal no café? Vinagre no leite? Pimenta na manteiga?”, do livro Novas Aventuras de Pedro Malasartes (Hernani Donato, Ed. Melhoramentos), conforme proposta de atividade enviada no segundo kit reflexivo pela equipe do Projeto Magia de Ler. Os relatos dos professores mostram que muitos puderam nutrir-se dessas conversas com seus alunos e “surpreender-se com a maturidade das respostas”, como registrou a professora do 2o ano da E.M. Ernani Moreira Franco, Maria Julião dos Reis: “foi maravilhoso vê-los discordando, lançando seu ponto de vista e defendendo suas ideias”.

A transcrição a seguir, feita pela professora Fernanda de Araújo Frambach, dos 2o e 4o anos da E.M. Professora Lúcia Maria Silveira Rocha, é uma pequena amostra do potencial das conversas literárias:

“O confronto de ideias surgiu principalmente em dois momentos, relacionados a duas perguntas. A primeira diz respeito ao questionamento Por que Pedro Malasartes é chamado de herói nesse trecho?. Seguiu-se, então, uma conversa interessante:
Profa.: Por que Pedro seria um herói?
Aluno: Porque ele tirou muitas pessoas de problemas.
Aluno: Porque ele ajudou muitas pessoas a saírem de situações difíceis.
Aluno: Porque ele é inteligente e esperto.
Aluno: É! Ele resolve os problemas por causa da inteligência.
Aluno: E porque ele fez justiça.
Profa.: Mas, o que é ser um herói? Qual o objetivo principal de um herói?
Aluno: Ele vê uma situação difícil e vê que, se ele não ajudar, ninguém mais vai...
Aluno: É alguém sempre amigo e esperto que a gente quer ser igual.
Aluno: E ele não ganha recompensa pelo que faz.
Profa. E qual era o objetivo de Pedro Malasartes nesse caso?
Aluno: Ele queria ajudar ele mesmo!
Aluno: Ele não queria fazer justiça nada, ele queria era se dar bem!
Aluno: Mas ele ajudou a achar o culpado...
Aluno: É, mas ele mentiu e herói não mente.
Profa.: Afinal de contas, ele é um herói ou não?
Aluno: Ele é e não é...
Aluno: É, porque ele ajuda, mas às vezes atrapalha...
Aluno: E às vezes ele só pensa nele.
Aluno: Então, às vezes ele é herói e às vezes é vilão!”

No caso dessa atividade específica, uniram-se ingredientes fundamentais: um texto literário cheio de humor, argumentação inteligente e recursos lingüísticos sofisticados; um planejamento claro e detalhado, com foco na apreciação literária do texto e a mediação de um professor envolvido, preparado e disposto a ouvir e interagir com seus alunos. O resultado, é puro fermento!

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

eu leio, tu lês, ele lê, nós lemos

Lucirlei C. de Lima, 4o ano, E.M. Antonio Coutinho de Azevedo, lendo em voz alta para seus alunos; crianças em leitura individual e coletiva.


“Gostaria de registrar a delícia mágica que faz parte do momento em que as crianças retiram os plásticos de seus livros e os folheiam inicialmente. Mas não há fotos ou palavras que consigam ser fieis às impressas em minha memória de professora. Não correrei o risco de empalidecer este momento com palavras bonitas. É fato. É mágico. É um grande prazer participar destes momentos!” [Professora Fernanda Cristina D. Di Motta, 3o ano, E.M. Professor Paulo de Almeida Campos] 

Há momentos em que a leitura é tão singular que se torna quase incomunicável, como tão bem descreve a professora Fernanda com palavras que iluminam um desses momentos mágicos, ao invés de empalidecê-lo. Em algumas situações, somos meros observadores da experiência leitora vivida pelos outros, por mais próximos que sejam de nós. São ocasiões em que só há espaço para dois: o leitor e o livro que tem em mãos. O que dali se abre e se transforma, em diálogo singular, não se pode invadir ou mensurar. Como afirma Daniel Pennac, referindo-se aos pequenos leitores em contato com o maravilhoso dos contos de fadas, “suas relações particulares com Branca de Neve ou com qualquer um dos sete anões eram da ordem da intimidade, que exige segredo: grande fruição do leitor!” 

Assim como há leituras que exigem segredo, há as que querem se mostrar. Como uma roupa nova louca para desfilar, uma receita que precisa do paladar alheio para ser aprovada, ou ainda uma canção recém criada que só ganhará vida quando cantarolada por uma outra voz. Certas leituras são alçadas a uma condição especial quando compartilhadas. Não só porque se ampliam quando se mostram, mas principalmente porque seus leitores beneficiam-se da cumplicidade. A angústia de um final repentino num conto, a surpresa de um jogo sonoro que esconde e revela sentidos num poema ou a leveza de uma crônica pincelando cores no cotidiano cinzento, adquirem novas dimensões quando divididas com o outro. Porque ele, o outro, pode sentir a mesma angústia com o final repentino do conto, mas também pode sentir um imenso alívio, expandindo, assim, o que parecia estático na leitura solitária. É por meio da linguagem que a linguagem literária ganha novos e mais ricos sentidos. A palavra é sua matéria-prima. Se bruta, conserva a grandiosidade da origem; se lapidada, expressa o valor do esforço; se presenteada, eterniza-se no instante da intenção.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

olho olha, fita, nota, examina, admira, lê

Sempre que alguém fala em “ler imagens” um outro logo pensa em leitura de coisas impressas num suporte fixo: desenhos, pinturas, ilustrações, fotografias, gráficos etc. Nosso olho lê, sim, todas essas imagens massivamente publicadas. Lê e ignora, lê e pensa, lê e ri, chora, devora. Um jeito de se apropriar quase antropofagicamente do que nos cerca, como sugeriram os poetas revolucionários da Semana de Arte Moderna de 1922. De lá pra cá, a quantidade e o formato das imagens à nossa disposição mudou consideravelmente. Na velocidade peculiar à história de cada um, em contextos sociais dos mais variados, nossos olhos correm vertiginosamente à procura de sentido.

O que a leitura de imagens pode nos oferecer, afinal?

É possível extrair maior significado enxergando para além da materialidade fixa: o que há de vivo no que vemos? Qual intencionalidade podemos perceber no olho de quem registrou determinada imagem? E nas imagens que nos sugerem os poetas, então? Como ampliar a visão para, de fato, vê-las no poema? Cecília Meireles aponta-nos um possível caminho, dentre tantos:

“(…) Multiplica os teus olhos, para verem mais.

Destrói os olhos que tiverem visto.

Cria outros, para as visões novas.

(…) Sê sempre o mesmo.

Sempre outro.
Mas sempre alto.

Sempre longe.

E dentro de tudo.”
[Cântico XVIII, Cecília Meireles]

Multiplicidade é, também, uma propriedade dos textos literários apontada pelo escritor italiano Ítalo Calvino em seu livro Seis propostas para o próximo milênio. Referindo-se especificamente à multiplicidade presente na literatura produzida em nosso atual milênio, o autor constrói um conceito de multiplicidade, tanto no caso das imagens visuais quanto verbais, que não se restringe à ideia de “procriação”, mas se expande na concepção de “muitos em um só”. Eis aí uma possível chave para ampliar o que entendemos por “leitura de imagens”: procurar o que há de vário no aparentemente único.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

abre-te cérebro!

“Anne-Marie fez-me sentar à sua frente, em minha cadeirinha; inclinou-se, baixou as pálpebras e adormeceu. Daquele rosto de estátua saiu uma voz de gesso. Perdi a cabeça: quem estava contando? O quê? E a quem? Minha mãe ausentara-se: nenhum sorriso, nenhum sinal de conivência, eu estava no exílio. Além disso, eu não reconhecia a sua linguagem. Onde é que arranjava aquela segurança? Ao cabo de um instante, compreendi: era o livro que falava. Dele saíam frases que me causavam medo: eram verdadeiras centopéias, formigavam de sílabas, letras, estiravam seus ditongos, faziam vibrar as consoantes duplas: cantantes, nasais, entrecortadas de pausas e suspiros, ricas em palavras desconhecidas, encantavam-se por si próprias (...) As palavras largavam a sua cor sobre as coisas, transformando as ações em ritos e os acontecimentos em cerimônias.” [As palavras, Jean-Paul Sartre]

Você já pensou que quando abrimos um livro e lemos algo em voz alta para alguém um universo inteiro se abre diante de seus sentidos? É como se disséssemos, tal qual o verso do poeta Arnaldo Antunes: “Abre-te cérebro!” E, então, ouvidos e mente se descortinam para a experiência da leitura a partir do outro – aquele que se dá a nós por sua voz. Pode acontecer a qualquer hora e em qualquer lugar, basta que haja entre os interlocutores um bom livro. Um livro que fale, como no relato citado acima, em que o filósofo Sartre descreve poeticamente um instante privilegiado de sua infância, ao ser presenteado com a leitura em voz alta de sua mãe.

Bons livros falam por si, mas falam mais ainda se suas palavras ecoam com volume e intensidade intencionalmente pronunciadas. Quando isso acontece, ritualiza-se a experiência da leitura e certamente mais coisas se abrem aos ouvidos e mentes já despertos pela palavra. É algo dessa natureza o que nos contam os relatos de algumas professoras que participam do Projeto Magia de Ler:

“É neste momento que procuro despertar nos meus alunos o gosto e o prazer de ler e desenvolver uma competência leitora. Ao ouvir, os alunos aprendem, percebem as informações que estão sendo lidas, além de poderem compartilhar o momento da leitura com o grupo (...) Vale ressaltar que é necessário fazer uma leitura prévia do texto a ser lido, observar a qualidade e o assunto da história, assim como as ilustrações. O comportamento dos alunos como ouvintes faz parte de um processo de construção. Requer tempo.”  [Luciane Ribeiro Andrade, professora do 2o ano da E. M. Noronha Santos]

“Todos os artifícios a contribuir na aprendizagem são sempre válidos... Um deles, de muita importância, é a leitura em voz alta. Isso porque, tudo o que sugere uma outra ideia promove incremento do conhecimento. Por isso, a leitura interpretativa, elevando a entonação, ajuda na construção de múltiplas visões acerca do assunto.” [Luciana Antonia F. Marinho, professora do 4o ano da E. M. Nossa Senhora da Penha]

“Sabemos da importância da leitura em voz alta com a devida entonação, realizada pelo professor. Traduz uma prática que vai influenciar, motivar, incentivar, envolvendo os alunos no mundo imaginário, favorecendo a apreciação de textos literários, contribuindo assim com a formação de novos leitores literários.” [Sebastiana Almeida Moreira, professora do 2o ano da E.M. Júlia Cortines]

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

lançar mundos no mundo

O que a leitura significa para você? 
Para a maioria dos brasileiros que participou da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” (Instituto Pró-Livro, 2007), ela é fonte de conhecimento para a vida. Já para a maioria das crianças entrevistadas, a leitura é, principalmente, uma atividade prazerosa. Se unirmos livremente as respostas, a leitura torna-se sinônimo de um prazeroso meio de obter conhecimento. Sabemos que a leitura pode ser associada à inúmeros valores, além de conhecimento e prazer. Sua natureza a coloca justamente no lugar da variedade, da diversidade, da multiplicidade, da amplidão. Como já disse Caetano Veloso na canção “Livros” (http://www.youtube.com/watch?v=7vV22LRNrpk), ela tem o poder de “lançar mundos no mundo”. Lançando-se à leitura, escritores e pensadores nos deixam legados humanos insubstituíveis. Veja o que eles dizem sobre sua experiência com a leitura e deixe, você também, seu comentário: o que a leitura significa para você? (ou responda nossa enquete à esquerda)

"Para mim é difícil falar simplesmente de gosto pelos livros, porque em matéria de livros meu caso é muito grave: é um amor que vem desde a infância, que me tem acompanhado a vida inteira, e ainda acima disto, é incurável... [José Mindlin, bibliófilo]

"Escondidas no silêncio da biblioteca, mascaradas pela escura monotonia das capas, todas as palavras estavam lá, esperando que eu as decifrasse. Eu sonhava em me enfurnar naqueles corredores poeirentos, e nunca mais voltar." [Simone de Beauvoir, pensadora e escritora]

"Ler, eu acredito, é uma das experiências mais radiosas de nossa vida, pois, como leitores, descobrimos nosso próprio pensamento e nossa própria fala graças ao pensamento e à fala de um outro." [Marilena Chauí, filósofa]

"A vida está pulsando ali. O livro faz parte da casa, da comida, da experiência, da maternidade, do cotidiano." [Adélia Prado, escritora]

"De 1941 a 1944, quando me casei pela primeira vez, vivi um tempo intensamente dedicado a leituras tão críticas quanto me era possível fazer. Parte do que eu ganhava dedicava à compra de livros e de velhas revistas especializadas. As revistas e os livros punham sempre entre parênteses a aquisição de roupas e, somente quando não era possível deixar para um depois instante, comprava algo ordinário." [Paulo Freire, educador]

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

um autor, muitos leitores

No dia 18 de agosto, alunos e professores participaram de uma “conversa eletrônica” com o autor Tiago de Melo Andrade. A proposta faz parte das ações formativas do programa Magia de Ler em desenvolvimento na rede.
Mediada pela coordenadora Karina Rizek, a conversa foi descontraída e repleta de conteúdos interessantes: os alunos prepararam diversas perguntas, que iam desde curiosidades sobre a vida do autor e sobre o seu fazer de escritor até questões sobre a obra que haviam lido - “Gabi e o Tesouro do Oriente”. Os alunos queriam saber, por exemplo, se Tiago morava mesmo em uma casa azul e se conhecia todos os lugares pelos quais a personagem Gabi passava em sua aventura – resposta que Tiago tinha pronta: a literatura pode ser um caminho para conhecer mundos reais, possíveis e imaginários. Na seqüência, os professores também puderam fazer suas perguntas para o autor e para a Maria Esther Soub, capacitadora do Magia de Ler, que respondeu questões relacionadas ao desenvolvimento dos projetos didáticos propostos pelo programa.

"Tenho trinta anos. Moro em Uberaba, Minas Gerais, numa casa azul, com meus pais, minha irmã, duas gatas, um cachorro, cinco saracuras, uma onça escondida no quintal e o fantasma do meu tataravô. Aos 5 anos de idade, tentei fugir com o circo, mas a polícia impediu, felizmente. Aos 10, enquanto estava rezando, quebrei o braço esquerdo. Aos 19, já com pernas muito compridas, salvei um homem que caiu na enxurrada. Aos 22, publiquei meu primeiro livro... Estudei história por um tempo, mas acabei me formando em direito. Escrevo livros infantis e juvenis desde 2001, quando recebi o Prêmio Jabuti na categoria Autor Revelação. Durante estes anos, publiquei vários livros e tive a felicidade de conhecer ótimas pessoas engajadas na formação de um país leitor. Foi muito bom entrar para essa turma que, teimosamente, não desiste das letras e acredita num futuro de muitas histórias para o nosso Brasil. O que eu gosto mesmo é de contar uma boa história, de preferência engraçada, para trazer a leveza do riso para essa vida pesada de manchetes tristes. O bom humor é fundamental para superar as dificuldades ou mesmo para conviver com elas."

domingo, 3 de outubro de 2010

conhecendo o blog

A criação deste espaço visa a construção de mais um canal de comunicação dentro do programa MAGIA DE LER para divulgação de idéias, experiências, reflexões e, principalmente, troca entre todos aqueles envolvidos e implicados com a educação de nossas crianças. É aqui que professores, capacitadores, coordenadores, diretores, equipe técnica e, inclusive as crianças, têm a oportunidade de se encontrarem e exporem suas idéias e opiniões.

Para promover essa comunicação, é fundamental que todos os envolvidos no programa participem, acessando a página regularmente e contribuindo com comentários!

Você vai encontrar, neste blog, muitas "postagens". Cada postagem é um texto, que apresenta um conteúdo diferente relacionado ao programa (a reflexão de um professor, uma notícia, uma foto legendada, um depoimento, um texto interessante etc.). No canto esquerdo da página você vai encontrar, abaixo do texto que descreve o programa, um "índice", organizado por data. Através deste índice você tem acesso a todo o conteúdo do blog, organizado por data. Vá clicando nos diferentes tópicos para ter acesso aos textos. Para cada um deles, você poderá adicionar um comentário. 

Se você, além dos comentários, quiser sugerir o texto para uma postagem, escreva um email para projetomagiadeler@gmail.com . Teremos grande prazer em receber sua contribuição!


Contamos com vocês e aguardamos ansiosos o envio de comentários e postagens!